sexta-feira, 4 de junho de 2010

.

Lembrei-me daqueles dias em que andava pela rua e todos os locais para onde olhava me lembravam de ti. O teu cheiro estava em tudo, como se as ruas me quisessem obrigar a ter-te sempre presente, a sentir-te em todo o lado. Era quase tortura, de tanto que doía pela saudade. E o limite entre o quase e o ser tortura estabelecia-se no amor que sentia, e em tudo o que me tinhas dado, ainda que há muito tempo atrás (talvez nem tanto, mas parecia muito ). E então eu ia passeando e vendo-te em todo o lado. Alturas houve (muito poucas, mas houve) em que propositadamente ia às tuas ruas, procurando conforto na sensação de proximidade que me traziam. E ao fim de tanto tempo, agora encontro conforto em ti do resto do mundo. Mas tu só vês o resto do mundo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

.

...medo, Medo.medo
tenho
mas
Quero

quinta-feira, 6 de maio de 2010

.

Gostou. Quis. Amou. Quis tanto e amou tanto, que teve. Teve demasiado, até. E então, largou. Magoou. Quebrou - Destruiu. Afastou-se. Era o fim. Fazia falta, mas estava a habituar. Até que reaproximou, e mexeu. Tocou, tocou sempre. Afastava-se e aproximava-se sem aviso, sem segurança, sem amor, sem nada. Mas ela queria, sempre. E depois de repetirem tantas vezes, ele largou de vez, pensava ela. Estava bem, já não precisava. Tinha mundos novos a preencher, não o espaço que ele deixara, mas todos os espaços em torno desse. O mundo "sem" tornava-se melhor com o tempo. Ela estava forte, grande, poderosa. Feliz, ou quase. Mas a vida fez com que ele voltasse. E ela quis convencer-se que ele não tornaria a ser o centro. Mas ele tornou-se, não porque quisesse, mas porque só ele cabia naquele espaço vazio que tinha ficado. E ela lutou, tanto. Sabia que para ali ele não voltaria. Ainda se deixou levar de novo uma ou outra vez, sem pensar muito, ou fingindo a si própria que não pensava. Um dia percebeu que voltara a sentir necessidade de parar no tempo para pensar nele. Não ficava bem se não se lembrasse, ou se não o reinventasse. Aceitou então que ele era inigualável. Ele não saberia, nunca, apenas porque não ouvia - não sabia, nem queria ouvi-la. Então ela gostou, e quis, mas não teve. Nem terá nunca, porque ele morreu dentro daquele corpo, e os olhos e as palavras que dali saem não pertencem a quem ela conheceu um dia. Mudou, e agora ela via-se presa a um desconhecido. Mudou, e ela queria que ele voltasse.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

.

És-me um aperto. Sufoco-te cá dentro para não rebentar. Empurro-te com força, acrescento ao espaço balões de ar para separar, e à superfície está tudo bem. Acordo, está Sol, estou bem, quase não existes ( Empurra. Vá! Empurra ). Saio de casa, ar, luz, mundo. Estou bem ( Empurra mais! ). O dia passa, não te vi, não te falei, não te senti ( Há espaço a separar. Na superfície está tudo bem ). E depois vejo-te. É-me indiferente, completamente indiferente. Tem que ser, foi assim que eu aprendi ( Empppppuurra! ) E depois cheiro-te. Desligo do mundo por meio segundo. Não é nada. É só reconhecível. ( O espaço diminui. Faz força, há balões de ar. ) O dia passou. Chego a casa, estou sozinha. Ouço música, leio, penso. Tento convencer-me que se estás, é só na cabeça. No peito há balões de ar. Vou dormir.

Mas não adormeço sem ti. A cabeça e o peito confundem-se, imagens reais e não reais baralham-se, com palavras, e o ar, e os balões. Não sei o que é real, mas não importa, porque este momento é meu, e é o que eu quiser que seja - não tenho força para te combater antes de descansar. Por mais ar que haja entre o aperto e mundo, não descanso sem ti.

A falta que sinto é psicológica. Quando o físico não chega, e o ser já não é, não há contacto que compense. Do corpo não tenho saudades, sinto falta é da pessoa.

Tenho saudades tuas até quando estou contigo.